É nisto que eu acredito

18.5.15
Ir assistir a um espetáculo BOM é uma coisa que devemos espremer até ao tutano... um prazer prolongado, um esticar da corda...
Nos anos em que trabalhei no Serviço Educativo do Centro Cultural de Cascais, uma das áreas que mais gostava era a mediação que fazia com as escolas e famílias quando estas vinham assistir aos espetáculos que promovíamos. Desta experiência retiro muitas aprendizagens e faço questão de saborear com os meus filhos este prazer que aprendi a prolongar...
Ontem fui à casa das Histórias Paula Rego com o Raul assistir ao Photomaton do Fernando Mota.
Eu já conhecia o espetáculo e, embora este esteja recomendado para + 6 anos, resolvi arriscar.
Uns dias antes mostrei ao Raul o trailer e expliquei-lhe que era aquele espetáculo que íamos ver no domingo à tarde. Depois mostrei-lhe outras coisas, outros excertos de outras peças de teatro, música, dança e falei-lhe sobre os meus favoritos e os das irmãs, contei-lhe que na idade dele elas também iam muitas vezes ver coisas que eram feitas para meninos mais crescidos e que umas vezes gostavam outras não.
Um espetáculo pode ser uma vivência importante se lhe dermos a importância que merece, se não for mais um "rebuçado" que chupamos entre outras coisas que consumimos. Para saborear precisamos de tempo, de intenção, de concentração...
No domingo, o Raul bebeu atentamente tudo o que o Fernando Mota lhe passou naqueles minutos em que durou o espetáculo. Assistiu atento e concentrado, ouviu e observou com uma capacidade muito maior que o seu tamanho.
Foi uma excelente experiência, eu estive ao lado dele a dar-lhe a segurança que fui entendendo que ele precisava. Houve uma altura em que sentiu medo de um som mais forte que ele não percebia bem de onde vinha, eram umas esferas de vidro que rodopiavam numas taças também de vidro, do sítio onde estávamos sentados ele não via bem o que estava a acontecer e isso deixou-o inquieto... senti que tinha o lábio a tremer e abracei-o ligeiramente, depois expliquei-lhe ao ouvido o que se estava a passar e disse-lhe que no fim ele poderia ir ver como se fazia. Ficou mais tranquilo. No final aplaudiu e depois pediu para ir ver as "taças da salada". 
Hoje, depois da escola, vamos comprar uns berlindes de vidro e fazê-las rodopiar numas taças de vidro.
Desta forma - preparando a ida, ajudando a enfrentar o que sentimos durante o espetáculo e prolongando a vivência depois do mesmo, estou a ajudar o meu filho a saborear este acontecimento e a permitir que esta vivência fique na sua memória de uma forma mais arrumada e forte.

Agora tenho para lhe oferecer "O Livro Escuro e Claro".
Este livro, de autoria de Madalena Victorino e da Inês Barahona com ilustrações de Rita Batista é maravilhoso, trata-se de um diário de bordo, um livro com espaço para registar e para criar sobre o que se viveu, um "instrumento guardador de experiências culturais vivenciadas".
"Este livro é escuro e claro.
É teu.
É um livro sobre o teatro e sobre o que nele acontece. (…)
Este livro é escuro, porque é dentro de ti que tudo se passa quando vês um espetáculo. É aí que sentes, pensas, observas, é no escuro que te assustas, no escuro de ti que descobres coisas e que às vezes te ris."
(citação de “Uma carta para ti…” n’O Livro Escuro e Claro)
Este livro vai acompanhá-lo nos seus primeiros anos de vida como espetador, consumidor  atento e participativo. 
O livro também se destina a meninos mais crescidos mas eu vou ajudá-lo a registar estas primeiras experiências e acima de tudo a torná-las significativas na sua vida.
É nisto que eu acredito!
imagem retirada da internet:  http://www.culturgest.pt/

2 comentários:

  1. Concordo em absoluto! Tudo depende de cada criança e, por vezes, dos 'inputs' que lhes vamos dando ao longo do crescimento, bem como da contextualização da actividade, antes de os colocarmos lado a lado com a música, teatro, ou com qualquer outro género de arte. Talvez por isso a aceitação deste ou aquele espectáculo não careça de tipologia etária em certas ocasiões.
    Acho essencial esse 'prolongamento', para que o apreendido não se torne em algo estanque, antes numa forma de moldar novos conceitos e ideias.

    Obrigada pela partilha!

    Beijinhos*

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