Dias cinzentos

24.2.16

Há dias em que me sinto minúscula, esmagada pela imensidão de coisas que giram à minha volta. Sinto que a minha actuação não importa, sinto-me insignificante e impotente.
Há um remoinho de coisas, um constante ruído surdo que me consome e me afasta de mim como se me transportasse para outra dimensão e eu conseguisse ver-me assim,  pequena e incapaz.

Todos os dias sou avassalada pelo mundo, é a crise dos refugiados e as muitas fotografias esmagadoras que nos chegam levianamente pelas redes sociais a sugerir um like ou um bonequinho com uma lágrima, as injustiças constantes sobre as crianças e as mulheres, a crescente intolerância com as minorias e os déspotas que ganham força pelo mundo fora. 
São as constantes histórias de corrupção que nos tornam cada vez mais distantes dos que nos governam, a sensação de que somos enganados constantemente quando pagamos os serviços que nos venderam como exemplares e essenciais, que nos envenenam com o que comemos, com o que bebemos, com os produtos de higiene, com os medicamentos, com o ar que respiramos. 
É a escola que se afasta cada vez mais das crianças e dos jovens que a frequentam, são os professores e os pais desesperados que insistem em modelos proibitivos e de punição na esperança de recuperar uma autoridade perdida para sempre.

Tento agarrar-me com unhas e dentes aos pequenos nadas da minha vida, concentrar-me no amor e na beleza dos gestos simples, olhar com generosidade para os meus filhos e ajudá-los a viver cada dia de forma plena mas a consciência corrói-me e pergunto-me como posso eu fazê-los acreditar no amanhã quando o hoje me desilude tanto.
Resta-me também a mim esperar, lado a lado com eles, respirando fundo e contendo as lágrimas.
Há dias assim, dias em que a nossa bolha não é suficientemente impermeável.
São dias cinzentos estes.
Fotografias Vitorino Coragem para Nheko

4 comentários:

  1. Olá minha linda!!!
    Como te compreendo... também tive um dia muito cinzento na quarta-feira.
    Beijocas grandes

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  2. Há dias assim, mesmo... Parece tão difícil aguentar tanto peso... Mas depois vem a coragem e a vontade de esquecer esses dias. Força, vai passar. Bjs, Paula Vasconcelos

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    1. Obrigada Paula, estes dias fazem parte da vida mas claro que não a podem dominar, venha o sol primaveril para dissipar estas nuvens todas. Abraço

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