dias contados

Eva, Rita e Alice, 2004

Sonhei que regressava ao trabalho, era o meu primeiro dia, acordei angustiada. 

Passaram dois meses e meio desde de que o bebé Raúl nasceu, falta outro tanto para o dia do meu pesadelo chegar...75 dias.

Desde que estou sem trabalhar tenho toda a disponibilidade do mundo para a minha família e isso preenche-me e faz-me sentir muito feliz.

Tenho tempo para ouvir as histórias de cada uma das meninas; contam-me o que as faz rir, o que as zanga, as injustiças, as alegrias, as ansiedades, os medos. São tantos os temas de conversa... falamos juntas, as quatro, partilhamos opiniões, concordamos, discordamos, argumentamos... e temos conversas privadas onde riem, choram e pedem colo. Sinto-me tão próxima, sinto-me tão importante nesta fase do seu crescimento.

E, claro... há o nosso menino, este bebé que nos ilumina a vida. Cada sorriso, cada aprendizagem emociona-me e inunda-me de felicidade.

Os nossos dias são calmos, tranquilos, uns com os outros, temos tempo para todos e partilhamos pequenas coisas com cada um.

As pequenas rotinas transformam-se em prazeres sem pressa, com espaço para sentir, para respirar.

É bom tratar da casa, tratar do nosso espaço e deixar pequenos mimos espalhados.

É bom sentir o sol a entrar pela janela e a iluminar tudo... é bom ouvir a chuva e o vento a bater nos vidros.

Acendemos a lareira quando está frio e ficamos a ver o lume.

Passeamos quando está sol, a pé, de skate, de bicicleta...

Fazemos bolos, bolachinhas, sumos naturais e batidos, preparamos lanches reforçados para tardes de estudo, surpresas e pequenas comemorações, vemos séries e filmes na televisão e ficamos juntos.

Diariamente reforçamos o Amor que nos une.

Também nos zangamos, gritamos e somos injustos uns com os outros, mas temos tempo para pedir desculpa e desculpar, para conversar sobre o que sentimos, para crescer com os erros e saber rir de nós próprios.

Este estado de harmonia demora a construir, precisa do nosso tempo para existir e, sem dúvida, faz muito bem à saúde.

Pena ter os dias contados... 75.