Quando a mãe grita...

Há dias difíceis, dias em que tudo se precipita, tudo ferve, tudo se complica... e o nada torna-se imenso.
Há dias em que me sinto enrolada na minha própria teia de dependências, criadas com toda a boa vontade, amor e disponibilidade.
Há dias que me parece que eu não chego.

Hoje foi um desse dias.
Foi custoso.

Ser (esta) mãe às vezes doí-me, às vezes as palavras que grito ficam durante tanto tempo a fazer eco na minha consciência...
concluo sempre que havia outra forma mais doce de dizer aquilo, de ajudar, de fazer crescer.
Ajudar a crescer é muito difícil, abanar, destruturar, criar o caos para procurar nova ordem...
Ser duro, frontal, (até) impiedoso...
e sempre sem ir a baixo, sem mostrar a aflição que se vai apoderando de mim...

Ser (esta) mãe é também conseguir ficar em silêncio à espera que a tempestade passe, que as águas acalmem... e nessa altura, abrir os braços como um porto seguro.
E sentir tudo a voltar ao lugar, aqui e lá - dentro dos nossos Eus.

Dar colo, amar, re-dizer agora de uma forma doce e calma.
Conferir se conseguimos avançar um bocadinho neste caminho partilhado de crescimento e certificar-nos - sempre, de que caminhamos juntas.

Vou dormir dorida mas satisfeita por não ter fugido, por não ter facilitado, por não ter relativizado. Sinto-me bem por ter tido coragem.
Foi assim o meu dia de mãe.